Calígula, ex-imperador romano, era louco ou apenas incompreendido? (2024)

Cometeu assassinato? Seguramente.Incesto? Talvez. Oexercício brutal do poder político? Sem dúvida. Nos anais dosimperadores romanos infames, poucos chegam perto deCalígula, cujo reinado como terceiro imperador doImpério Romano o tornou membro de um pequenoclube dos governantes mais odiados – e lembrados – do mundo.

MasCalígula era realmente tão ruim assim? "Ele foi um imperador terrível", afirmaAnthony A. Barrett, professor emérito da Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, e autor do livro “Calígula: The Abuse of Power” e de outraspesquisas sobre o notório governante. "Mas ele não era tão ruim se estivermos usando ruim no sentido de comportamento extravagante e ridículo."

Veja como o jovem imperador romano ganhou suamá reputação – e por que pode valer a pena repensar seubreve e brutal reinado.

(Sobre líderes violentos, veja também:Como os maias escolhiam as vítimas de sacrifício?)

Quem foi Calígula?


NascidoGaius Julius Caesar Germanicus, eleera filho de um dos líderes mais reverenciados de Roma, o general Germanicus. MasCalígula – ou "pequeno boto", como foi apelidado durante a infância –não herdou as habilidades de liderança do pai. Em vez disso, após a morte prematura de seu pai, Calígula passou grande parte de suainfância no exílio, apenas para retornar aRoma como um protegido incômodo deTibério, oimperador paranoico que havia expulsado ele e sua família. QuandoTibério morreu em 37 d.C.,Calígula, com então24 anos, tornou-se o próximoimperador de Roma.

O que aconteceu em seguida é matéria de lenda: um governo caracterizado porcrueldade, excesso,capricho e disputas políticas. Mas, a princípio, diz Barrett, ojovemimperador romano parecia que poderia seguir os passos de seu respeitado pai. "Ninguém sabia nada sobre ele", diz o professor. "Eles provavelmentepensaram que poderiam controlá-lo." Jovem, charmoso e aparentemente capaz, Calígula começou seu reinado de forma razoável.

Calígula tinha problemas mentais?

Mas então as coisas mudaram. Cerca deseis meses após o início de seu reinado, o comportamento do imperador mudou. Alguns historiadores atribuem essa mudança de personalidade a umadoença mental grave. Mas, para Barrett, é mais simples: a lua de mel havia acabado e a pressão estava aumentando.

Ele acredita que, quando a realidade dosencargos administrativos e políticosde ser imperador ficou clara, o líderimaturo e despreparado lutou para estar à altura de seu título. Sem treinamento e sem as habilidades políticas necessárias para manter a confiança de seus súditos e do Senado, Calígula começou a vacilar.

Os atos obscenos de Calígula, como permitir que seu cavalo Incitatus estivesse à mesa em um banquete, eram temas populares entre os artistas. Acima, uma gravura do século 19, deThe History of the Roman Emperors from Augustus to Constantine, de Jean Baptiste Louis Crevier, 1836.

Foto de De Agostini Picture Library, Getty Images

Logo,Calígula estava atacando seus inimigos, exigindo campanhas militares caras e imprudentes e até mesmoordenando a morte de sua esposa. Circularam rumores de que o imperador hedonista mantinharelações sexuais com suas próprias irmãs, Julia Livilla e Agripina, a Jovem (a futura mãe do imperador Nero).Calígula acabou exilando-as depois de descobrir o que parece ter sido um esquema de bastidores contra seu reinado. Ele alimentou a controvérsia,provocando e humilhando o Senado e ordenando assassinatos a torto e a direito.

Esse comportamento caprichoso – e as acusações de que ele fazia coisas como colocargladiadoresfisicamente incapazes contra feras selvagens por esporte – há muito tempo alimenta a especulação de que Calígula sofria de algum tipo detranstorno de humor ou doença mental. Os diagnósticos retroativos culpam tudo, desdepsicose epiléptica até encefalite.

MasBarrett acredita que Calígula era saudável – um fato que lança uma luz ainda mais sinistra sobre suabrutalidade casual deliberada.

"Até o final,Calígula tomou decisões racionais", comenta Barrett, comparando-omais a um Joseph Stalin do que a uma figura perturbada deHitler. "Ele conseguia distinguir a realidade da fantasia." Mas a realidade do monarca era uma realidade impregnada de poder total – um privilégio que ele exercia estrategicamente e à vontade.

Esse poder teria subido à cabeça de qualquer um. "Quando ele entrou na cidade, o poder total e absoluto foi imediatamente colocado em suas mãos peloconsentimento unânime do Senado e da multidão", afirmou Suetônio, um historiador conhecido por suas biografias dos Césares.

Desde o início, porém, o poder imperial de Calígula foi banhado pelo sangue de milhares de sacrifícios de animais. "Tão grande foi o regozijo público", disse Suetônio, "que nos três meses seguintes... diz-se quemais de 170 mil vítimas foram mortas em sacrifício".

Há fontes confiáveis sobre a época?


Apesar desses excessos, diz Barrett, é importantequestionar os relatos dos contemporâneos doimperador Calígula. O trabalho deles foi informado por seusinimigos políticos e distorcido por boatos. O cronista mais confiável de sua época,Tácito, escreveu sobre Calígula, mas infelizmente seu trabalho se perdeu. As histórias que restaram contêm relatos "ridículos e absurdos" sobre o imperador, afirma Barrett, que compara Suetônio e seu contemporâneo, Cássio Dio, arepórteres de tabloides em busca de um furo sobre o imperador em apuros.

O comportamento de Calígula eradefinitivamente cruel, mas provavelmente um pouco menos terrível do que Dio e Suetônio querem fazer crer. Veja as exigências amplamente divulgadas de Calígula paraser tratado como um deus. Essa teria sido uma prática padrão nas colônias romanas, que eram obrigadas a reconhecer o chamado "cultoimperial" de Roma. Mas Barrett diz que não há evidências, como a cunhagem de moedas, que apoiem uma exigência semelhante em Roma ou mesmo na Itália.

Há também ainfame história de transformar seu cavalo em cônsul – uma ameaça que nunca se concretizou. Barrett atribui esse episódio a um imperador irritado quezombava de seus inimigos no Senado, inimigos que ele considerava tão incompetentes e imprestáveis que poderiam ser facilmente substituídos por um animal.

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    Calígula tinha má reputação?


    Mas, mesmo que Calígula nunca tenha se envolvido nasfaçanhas mais ultrajantes que lhe foram atribuídas, o fato de suamá reputação extremamente grande e duradoura permanece. O que explica a notoriedade contínua de um homem cujo governo durou menos de quatro anos há quase dois milênios?

    "Os seres humanos adoram vilões", explica Barrett, e Calígula desfruta dessa fama contínua graças a umacombinação de carisma pessoal e inimizade obstinada entre seus contemporâneos. Há outro fator, diz Barrett: a passagem do tempo. Como muitos anos se passaram desde suas façanhas, Barrett diz: "Calígula pertence a um mundoque é tãoestranho para nós agora que podemos apreciar sua vilania com a consciência tranquila".

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